Autópsia da razão

terça-feira, 17 de julho de 2012


'Método perigoso' narra caso de amor entre o psicólogo Carl Gustav Jung e sua paciente Sabina Spielrein, além de discutir os primórdios da psicanálise na Europa

Bruno Garcia
Um Método Perigoso fala de tudo, menos de método. O filme tem romance, traição, perversões e algumas paisagens bucólicas.  Conhecido pelas abordagens psicológicas, o diretor canadense David Cronenberg explora a célebre história do envolvimento entre Carl Gustav Jung, principal discípulo de Freud, e Sabina Spielrein, a primeira paciente em quem ele aplicou o método psicanalítico.
A história é real e já foi contada anteriormente emJornada da Alma (2003), de Roberto Faenza, e na peça The Talking Cure , de Christopher Hamptom, que também assina o roteiro do filme. Mas, diferente da película de 2003, que funciona como uma cine biografia de Sabina, o longa-metragem de Cronenberg se concentra na figura de Jung, em suas dúvidas e questões morais.
Foi na virada do século XIX para o XX que o otimismo cândido sobre a grandeza moral da humanidade começou a ser decisivamente contestado. A visão iluminista que julgava o comportamento humano como determinado única e exclusivamente pela razão foi questionado pela raiz. Artistas, pensadores, cientistas e escritores se juntaram cada um na sua área para praguejar contra os excessos do realismo objetivo do XIX.
Entre essas críticas estavam às descobertas de Freud, que qualificavam os seres humanos como movidos, não pela razão instrumental objetiva, mas por impulsos inconscientes. O nascimento da psicanálise pôs um freio nas projeções ortodoxas de um progresso incomensurável e alertou para existência de uma natureza humana subterrânea, muito mais obscura, marcada por visões de desejos e perversões quase sempre inconfessáveis.  

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